terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lições da África para o Brasil de 2014

"Segundo especialistas, planejamento é a palavra-chave no quesito mobilidade urbana"

Por Karlo Dias
 

Um trio formado por um brasileiro e dois sul-africanos, todos especialistas em mobilidade urbana, e responsáveis pela implantação e controle do sistema de transporte público durante a Copa do Mundo da África do Sul encerrou o Fórum Projetando o Brasil 2014/2016, em Salvador, na última sexta-feira (12).

Richard Gordje e Gordon Laing, acompanhados do brasileiro Stenio Franco, representante da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), que, durante os jogos, viveu a experiência de participar da equipe de observação da mobilidade urbana no país africano, apresentaram dicas que podem ajudar as cidades-sede a planejar o funcionamento do sistema de mobilidade para a Copa de 2014.
Os arquitetos e gestores da Copa no Brasil conheceram detalhes das etapas de preparação do Mundial na África, os planos operacionais de mobilidade urbana e a gestão do sistema de mobilidade, especialmente na Cidade do Cabo e em Johanesburgo. Foram demonstrados exemplos comparativos, os sucessos e fracassos de duas cidades-sede.
Segundo Richard Gordje, a palavra chave do quesito mobilidade na África do Sul foi “planejamento”. Gordje destacou pontos considerados essenciais para a preparação do evento. “Deve-se ter um planejamento detalhado do trânsito e do transporte público, com pelo menos dois anos e meio de antecedência”, ressaltou.
“É necessário formar uma equipe coesa local, mas sintonizada com a equipe nacional”, afirmou Laing. A equipe gerenciada pela dupla sul-africana era composta por 33 pessoas que trabalharam durante três anos e meio, desenvolvendo um planejamento minucioso das ações que seriam executadas durante os dias dos jogos.
Comunicação ampla A comunicação também foi outro ponto ressaltado. “O plano de mobilidade deve ser amplamente difundido entre a população e os turistas que pretendem visitar a cidade. Esta comunicação deve iniciar logo após o sorteio dos jogos, quando os torcedores começam planejar as viagens”, afirmou Stenio Franco. “O desafio é convencer o torcedor a deixar os carros particulares e optarem pelo transporte público”, destacou o especialista.
Conforme explica o consultor da ANTP, a comunicação deve ser ampla e irrestrita. Deve atingir os turistas e os moradores da cidade. "Estima-se que pelo menos 70% das pessoas que aproveitam a Copa não entram nos estádios, porém ocupam as ruas e praças das cidades-sede para torcer pelas seleções", afirma Franco.
O volume de pessoas que se deslocam para o entorno dos estádios é de quatro a sete vezes a capacidade de lotação desses locais. “Há muita gente que só quer produzir uma foto, estar ali para fazer parte da festa de alguma maneira”, afirmou. O dado comprova que o sistema de mobilidade deve ser pensado não apenas para o entrono do estádio, e sim para toda a cidade.
Para João Alberto Viol, presidente nacional do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia), os exemplos da África do Sul são pertinentes neste momento em que o Brasil se prepara para acolher o Mundial. “Antes da Copa, nós pensávamos que a África do Sul seria uma vidraça. A informação que nos chegava era de que lá não existia planejamento estratégico. O que percebemos no decorrer o evento foi o inverso. Eles deram um show de organização e controle da mobilidade. E hoje oferecem exemplos de como devemos fazer no Brasil”, avaliou Viol.
O plano de mobilidade urbana da África do Sul contou com a definição exata do contexto que se apresentava em cada uma das cidades, um plano conceitual sobre a cidade com definição clara de população, hospedagem, número estimado de turistas, condições geográficas, mapeamento das vias e dos meios de transporte, sinalização, entre outras.

10 Lições da África do Sul

1. Planejar, planejar e planejar. Esta é a palavra-chave para um bom programa de mobilidade durante a Copa.

2. Priorizar o transporte público e o pedestre. Oferecer amplas possibilidades de transportes públicos aos torcedores e convencê-los de que a melhor forma de se locomover é utilizando o sistema público.

3. Instalar terminais de transporte com uma distância média dos estádios e criar corredores exclusivos para que ele possa se locomover com segurança do terminal até o estádio.

4. Criar alternativas de áreas públicas distantes dos estádios para que o torcedor que não comprou o ingresso possa acompanhar os jogos em outras áreas distantes dos estádios, porém próximo aos terminais de transporte.

5. Comunicar o funcionamento do transporte com uma antecedência mínima de seis meses. O ideal é criar um site para divulgar o sistema de mobilidade, logo após o sorteio dos jogos.

6. Criar uma central de operações e comando que tenha o controle sobre todo o sistema de mobilidade e possa gerenciar as informações e decisões;

7. Criar um call center multilíngue, com profissionais treinados para responder as dúvidas dos torcedores. Nos dias dos jogos de determinado país, deve haver ao menos uma equipe de atendentes que falem a língua nativa da seleção que está jogando.

8. Aproveitar a Copa das Confederações para testar exaustivamente o que foi planejado. Fazer as adequações necessárias e voltar a testá-las.

9. Criar um padrão de sinalização nacional, para facilitar a comunicação com o turista. Esta sinalização deve ser exposta e divulgada antecipadamente.

10. Avaliar a possibilidade de gratuidade durante os jogos. Esta decisão deve ser aprofundada e discutida com os empresários do setor e o governo. Pode-se ter, por exemplo, uma forma de isenção para os torcedores que apresentarem o ingresso de acesso aos estádios.

 

 

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