quarta-feira, 20 de abril de 2016


O Circo dos Horrores na fatídica tarde do domingo 17 de abril  


O que fazer quando observamos um sentimento de ódio crescendo em torno de pessoas supostamente esclarecidas? O que fazer quando presenciamos agressões morais e físicas diante dos nossos olhos? O que fazer quando percebemos a condição humana de um cidadão sendo motivo de piada, deboche e espancamento? 

Imagino que todos se sentiriam revoltados e de alguma forma, pensariam em tomar atitudes diante da situação. Porém, na tarde do ultimo domingo, o Brasil presenciou um verdadeiro espetáculo dos horrores, em um picadeiro no qual os atores foram os nossos deputados federais, representantes legais escolhidos por voto popular. Uma verdadeira reverência explícita ao crime de tortura, à homofobia, à barbárie, à ditadura, e por incrível que pareça, a grande maioria dos nossos representantes parlamentares, o que fez? - Quando não foi protagonista, aplaudiu. 

O fato que presenciamos é mais uma faceta criminosa do deputado federal Jair Bolsonaro, que ao, presumir vitória a favor do impeachment contra a presidente Dilma Roussef, mostrou suas intensões de torturador, ao citar o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. 

Pra quem não sabe, o Ustra, foi torturador chefe comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo no período de 1970 a 1974. O mesmo foi responsável por enfiar ratos nas vaginas de presas políticas, responsável também por espancar Amelinha Teles na chamada Cadeira do Dragão (uma espécie de cadeira elétrica, onde o indivíduo era colocado e amarrado aos pulsos, tendo fios introduzidos na boca, ouvido, uretra e bico do peito para sofrer descargas elétricas) deixando-a nua, machucada e ainda obrigando os filhos da torturada a presenciarem a mãe nessas condições lastimáveis. Na época as crianças tinham 4 e 5 anos de idade. 

Me questiono, abismado: - Como pode alguém aplaudir, ao ouvir reverências a este criminoso que fez parte de uma das mais tristes arranhaduras da história do nosso país?

É de se questionar o que está acontecendo. Existem pessoas que comungam essa cultura ao ódio e fazem questão de compartilhar em suas redes sociais, e nas rodas de conversas. São saudosistas de um tempo em que era possível silenciar quem manifestasse opinião contrária ao poder maior. 

O momento político que o Brasil está vivendo acende um sinal vermelho muito mais grave do que a questão do impeachment em si. Nossos representantes políticos estão acentuando um retrocesso humanitário que existe, está subjugado às entrelinhas, mas renasce fortemente, com o comportamento de ultraconservadores e reacionários como os senhores Jair Bossonaro, Marcos Feliciano, Luis Carlos Heize, Celso Russomanno e Eduardo Cunha, entre outros que não me representam. E isso, me dá medo! 

De tudo que tenho observado, o que mais me impressiona é saber que alguns deputados estão ali no parlamento disfarçados de representantes do povo, mas que na verdade são verdadeiros algozes dos direitos humanos. Trabalham para incitar o povo a agir conforme as suas vontades. Eles incitam o sentimento de ódio. Com isso, ganha força a possibilidade de repetir crimes como atear fogo em índios, agredir negros, linchar fisicamente e moralmente homossexuais, segregar aqueles que não forem abastados… enfim… crimes que estamos acostumados a ver diariamente na imprensa, e que cada vez tem se tornado comum na sociedade da barbárie. 

A prova horrenda desta sociedade da barbárie é que alguns brasileiros se identificam e apoiam este discursos xenofóbicos. Luis Carlos Heize, (PP) mesmo após ter dito que “quilombolas, índios, gays e lésbicas: tudo o que não presta”, ainda assim foi o deputado mais votado do Rio Grande do Sul. 

Não muito diferente dessa linha de pensamento, mas ainda pior, Celso Russomanno (PRB), Marcos Feliciano (PSC) foram os deputados mais votados em São Paulo, e no Rio de Janeiro. E no suprassumo do conservadorismo reacionário está Jair Bolsonaro (PP), o mentor de tantos projetos de lei, que envergonham qualquer cidadão brasileiro com o mínimo de percepção ética, e porque, não, estética da vida. 

É lamentável, mas algo deve ser feito, as mentes pensantes desse país precisam se unir e se fortalecer, usar voz em alto e bom tom para mostrar ao povo brasileiro que precisamos reconstruir nossos heróis e lembrar que nenhuma classe dominante pode ser mais forte do que as nossas conquistas por justiça e direitos humanos. 

Que não nos falte coragem, competência para que de alguma forma mudemos o curso dessa triste história que se anuncia. Ainda que eu tenha visto alguns poucos, fazendo a sua parte, muitas vezes acabam sendo silenciados por meio dessa nova e moderna forma de opressão. 

Infelizmente percebo que a nova história do Brasil está prestes repetir erros históricos do século passado, só que agora em tom de novela mexicana, em outro contexto e com novos personagens.

Nada do que foi dito coloca de lado a real importância desse momento politico. Não há como ignorar o pungente drama do povo brasileiro diante da crise econômica e política, mas nada disso deve ser capaz de nos tornar cegos para esse horror de ataques a nossa soberania que tentam fechar os olhos do Brasil, no momento em que os nossos direitos estão prestes a escapar por entre os dedos. 

Felizmente digo que eu posso não saber ao certo o que deve ser feito, mas garanto que tenho plena convicção de que jamais aceitarei ser agredido ou violentado moralmente por quem quer que seja. Como também jamais me calarei ao observar um eterno silêncio dos “bonzinhos” que apenas lamentem pelo ocorrido e nada fazem.   

















Nenhum comentário: