quinta-feira, 9 de junho de 2011

CUIDADO COM ESSA MOÇA: ELISA LUCINDA!

A presença da Elisa Lucinda, abrilhantando com a sua graça as noites em Salvador, não poderia passar despercebida para o público baiano. Mas a imprensa baiana, salvo raras exceções, nunca tem o cuidado de noticiar nada ligado às artes que realmente valem à pena.”



Por Elenilson Nascimento

Salvador está cheia de boas opções de cultura nesse fim de semana. Em sua maioria shows no Pelourinho, comédias stand-up (*que eu não gosto muito!) e alguns dramas. Entretanto, um daqueles espetáculos surpreendentes acaba de voltar à capital. Trata-se do maravilhoso espetáculo “Parem de Falar Mal da Rotina”, de autoria e interpretação da atriz e escritora Elisa Lucinda.

Nesse espetáculo, Elisa faz o público rir, refletir, se emocionar e até mesmo a acompanhá-la enquanto canta Cazuza ou um outro artista. Além de interagir com a plateia do começo ao fim do espetáculo (*eu já presenciei ela tomando celulares das mãos dos outros, mandando alguém ir ao banheiro, perguntando sobre como foi o dia de trabalho e por aí vai), mas também ela declama a sua poesia. E é aí que está a boa surpresa, pois os soteropolitanos dizem que nunca têm tempo para nada, muito menos para pensar profundamente sobre a rotina por meio da poesia. No entanto, para quem se propõe a assistir “Parem de Falar Mal da Rotina”, Elisa consegue a façanha.

Hoje, 09/06, a lindona esteve esbanjando a sua simpatia no programa “Roda Baiana” (Metrópole FM), apresentado pelo simpaticão André Simões. Elisa recitou o seu poema Aviso da Lua que Menstrua”: Moço, cuidado com ela! Há que se ter cautela com esta gente que menstrua... Imagine uma cachoeira às avessas: cada ato que faz, o corpo confessa. Cuidado, moço, às vezes parece erva, parece hera. Cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia, metade legível, metade sereia...”; falou sobre a importância da poesia, da felicidade em se apresentar novamente em Salvador, além de muitos ouvintes manifestando amor a Elisa.

Aproveitei a sua presença na rádio e mandei dois livros de presente para ela: “Poemas Dispersos” e “Diálogos Inesperados Sobre Dificuldades Domadas”, além de também ter mandado mensagem: “Queria muito que a Elisa soubesse da importância dela na minha vida. Foi por causa do livro ‘A Menina Transparente’ que resolvi arriscar em querer escrever. Sou fãzão, ao ponto de gritar por ela (*fiz isso na Bienal do RJ, quando ela estava lendo Quintana c/ o Paulo José, e o povo lá mandando eu calar a boca!). Elisa adoro você e espero que tenha gostado do presente. Por favor, você poderia ler duas linhas do meu livro para eu me amostrar!”. Bom ela recebeu os livros, agradeceu, mas não deu tempo de ler as duas linhas para eu me amostrar.

A presença da Elisa Lucinda, abrilhantando com a sua graça as noites em Salvador, não poderia passar despercebida para o público baiano. Mas a imprensa baiana, salvo raras exceções, nunca tem o cuidado de noticiar nada ligado às artes que realmente valem à pena. No entanto, um público entusiasta, ávido por raras oportunidades estéticas com conteúdo filosófico e social como esta, se faz sempre presente lotando as instalações.
Elisa é uma poetisa brilhante, uma exceção no país, já que poesia sempre é jogada no fundo do poço. Elisa explora temas como racismo, solidão, amor, corrupção e outros do infinito e dramático leque humano que desfilam ante os olhos e os ouvidos extasiados dos sortudos presenteados pela sua imponente presença de poeta, mulher e síntese potente do Brasil que esta cidadã nascida em Espírito Santo carrega pelo país inteiro. Segundo ela mesma informou no decorrer do “Roda Baiana” esta visita prévia na capital baiana é para marcar território para uma futura e mais demorada em que relançará seu livro/espetáculo: “Parem de Falar Mal da Rotina”, já assistido por mais de 1 milhão de espectadores e que, enfim, chega a cartaz em Salvador, no Teatro Jorge Amado.
Mas vamos aguardar com ansiedade, de preferência relembrando uma das suas performances mais famosas quando encerra os seus espetáculos com o seu poema: “Só de sacanagem” (*que ficou massa na voz de Ana Carolina): "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!”

"Parem de Falar Mal da Rotina" é um espetáculo interativo que provoca em seu público uma divertida reflexão sobre o cotidiano de cada um. Utilizando versos e conversas despojadas sobre a rotina, o espetáculo é uma espécie de espelho capaz de projetar mil possibilidades, provocando verdadeiras transformações em nossas relações sociais, de trabalho e pessoais. O espetáculo nasceu da grande lição e das inúmeras lições que a natureza nos ensina todo dia. A grande lição é a capacidade de estreia que faz tudo na natureza acontecer de forma espetacular, di-a-ri-a-men-te: o nascer do sol, o pôr do mesmo sol, os céus, a chuva, as estrelas, os ventos e as tardes.
“Talvez o sucesso e a empatia do espetáculo ‘Parem de Falar Mal da Rotina’ e do livro se deva por uma coisa muito simples: a brincadeira ali (embora séria) é de tirar os véus que encobrem realidades determinantes em nossas vidas, mas cuja face verdadeira, alguns dogmas do senso comum não nos deixa ver. É como uma espécie de cegueira, branda e inconsciente, contra a qual, por não sabermos, não tomamos providência. Isso vale para todo mundo, começando por mim que apesar de ser metida a saber, reconheço meus equívocos e busco sempre a luz da não-ignorância. Esta, muitas vezes, permite que sejamos injustos, contraditórios e até hipócritas, sem que se perceba com clareza. Como vocês têm notado, e eu espero não perder leitores por isso, tenho escrito sobre as relações homoafetivas. Já algum tempo meu público de leitores e fãs espera meu pensamento sobre o tema”, escreveu a atriz no seu blog.

Mas a peça também já foi apresentada em Barcelona – Espanha, mais de cem vezes, e nas redes sociais tem uma legião de fãs (*inclusive eu!). Elisa chegou a ouvir de uma espectadora que a senhora havia trocado suas pílulas anti-depressivas por uma dose diária de “Parem de Falar Mal da Rotina”. Agora, as experiências da peça viram um livro recheado do mais alto astral, que eu ainda não comprei.
Apesar de gostar muito da Elisa, até tentei que ela participasse dos “Poemas de Mil Compassos”, da “Coleção Literatura Clandestina”, em 2009, mas ter que tratar com os seus assessores é um porre, só há pouco tempo que eu passei a ler com frequência o seu blog – A Lira que Alucinda – e sempre me deparo com textos extremamente simples, mas totalmente tocantes. Uma delicadeza única para falar de coisas do dia-a-dia ou para homenagear lugares ou pessoas queridas.

E deselitizando a poesia no seu espetáculo, Elisa, que fala o texto poético como quem conversa com o público, emociona e diverte com suas palavras, gente de todo o tipo e de dez a cem anos. Uma auto-ajuda inteligente, uma aula de cidadania através da educação emocional; pois cuidando melhor de nossa rotina, autores e protagonistas que somos dela, cuidaremos melhor de nós mesmos, dos que nos cercam e do mundo à nossa volta.

Elisa costuma dizer que gosta de sair da leitura de um livro, de uma exposição de arte, de um espetáculo teatral ou de um filme, tocada, acrescentada, enfim, diferente de quando entrou. Esse para ela é o papel da arte. E o mesmo deseja a seu público. No ano passado, fiquei ainda mais encantado com essa artista e poetisa. A cada autógrafo que dava, era um desenho que fazia com seus lápis de cores e canetinhas espalhadas pela mesa. Na era da massificação, a exclusividade que dá a suas obras as tornam ainda mais valiosas. Um gesto de respeito aos admirados de sua arte.

Mas voltando ao livro que eu ainda não li… acredito que os textos sejam tão incríveis quanto os publicados no seu blog e escritos com um olhar simples da vida. Realmente a capixaba merece o reconhecimento do público. Não porque está entre os globais, mas porque sabe olhar e expressar a vida de forma simples, sem rodeios e com muito otimismo. Coisa que ainda me falta aprender. Confira mais alguns flashes de uma tarde de autógrafos:
Uma verdade o que o chatinho do Miguel Falabella disse: “Elisa Lucinda diz seus poemas como quem vai bordando a existência. Ela sai colhendo poesia pela vida afora com um talento impressionante. A poesia de Elisa Lucinda é a poesia de todos nós, seu verbo é múltiplo, cabe na boca do mundo e atiça, inflama e emociona e traz notícias da melodia que não se perdeu, transformou-se, metamorfoseou-se, mas continua melodia”. Isso é a poesia de Elisa.
Linda, em cena, no sucesso “Parem de Falar Mal da Rotina.
Com o poeta Artur Gomes, dos “Poemas de Mil Compassos”.
Com a Preta Gil.
Com Ana Carolina.
Com o pai da Mônica, o desenhista Maurício de Souza.
Com o escritor Rubem Alves.
Com o nosso amigo Sandro Rogério de Faria.
Serviço de poesia em Salvador:
Teatro Jorge Amado, Avenida Manoel Dias da Silva, 2177
Dias: 10, 11 e 12/06 e 17, 18 e 19/06/2011
Sexta, sábado e domingo às 20h
Ingressos: R$60 (inteira) e R$30 (meia)
+ Atenção professores: vocês pagam meia entrada!

fotos: reprodução

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